sexta-feira, 29 de maio de 2009

Muitas voltas...







O ônibus que me trazia para Santo Ângelo era o detestável pinga-pinga. Geralmente saia as oito horas de São Miguel e chegava às dez horas na Capital das Missões.Mas eu não reclamava.Apenas aproveitava a paisagem tão familiar.Desde criança, quando ainda morava em São Luiz Gonzaga fazia esse percurso.As curvas sei de cor. Os rios, as fazendas, tudo tão familiar embora nunca tenha realmente estado lá. Apenas o cheiro. Único, inconfundível cheiro das Missões. O roteiro era exatamente o mesmo. Descia no trevo da Av. Ipiranga, caminhava até a parada de ônibus, pegava o coletivo e ia parar na Praça Pinheiro Machado.Daí aquele deslumbramento de sempre. Parecia que eu nunca havia olhado para ela. Deslumbrante, imponente e com aquela aura de misticismo talvez herança dos nossos ancestrais guaranis. A Catedral estava ali. A escadaria, as torres, o interior e o Cristo Morto. O entorno da igreja com seus vendedores de pipoca e gentes apressadas em atividades diversas passando sem dar a mínima para aquela maravilha. Pensava comigo “tomara que não precisem se afastar daqui”. O cheiro, o aroma da cidade é privilégio único para quem se afasta e depois retorna. Ele invade sem pedir licença pelas vias respiratórias, mas em vez de ter os pulmões como objetivo, atinge como uma flecha, imagino aquelas que os índios usavam para a caça, o coração de quem nasceu aqui. Geralmente eu vinha com pressa e com muitas tarefas e algumas visitas, mas nada me fazia deixar de absorver aquela aura que envolve a Catedral. Tinha que retornar às três e meia, mas não havia problema.Meus olhos retiveram as imagens e a fixaram até a próximo encontro,afinal, eu ainda teria muitas voltas...

Um comentário:

Marjorie Bier disse...

Baaahhh!!! Eu não tinha visto esse texto!!!

Lembro-me quando estudava em Ijuí. Não gostava de voltar e de ver essa paisagem familiar. O estrangeirismo da cidade vizinha me fazia mais feliz. Demorei para me sentir em casa em Santo Ângelo. Só caiu a ficha de que aqui era meu chão quando o mundo começou a me doer. Depois de tantas idas e vindas, descobri que a melhor paisagem era a da volta. Não a volta definitiva, mas daquela de marujo que fica tanto tempo no mar que, pisando em terra firme, treme a perna por medo de não conseguir levantar.

(essa foto do Fernando Gomes é uma das favoritas do nosso prefeito, sabia?! Ele solicita que seja usada em todos os materiais de divulgação da cidade. São os olhares...)