quinta-feira, 26 de maio de 2011

O mundo soturno do Criador dos Sonhos!



Não era difícil fazer aquele caminho todas as noites. A nublaceira que poderia atrapalhar, na verdade era só parte do contexto. O caminho sabia de cor. Bastava apenas esperar a quietude da madrugada, onde o momento que lhe era mais propício ficava entre as três e seis horas.
Aquela pequena ponte arqueada sobre um pequeno córrego era o portal, se conseguisse atravessar, pronto, estava no inconsciente da pessoa adormecida.
A tarefa daquele dia era leve. Teria que criar todo o cenário para o sonho para um homem de quase setenta anos.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O velho!




Tudo inicia assim: eu comecei a ser chamado de senhor aos vinte e poucos anos, um fato que a princípio me aborreceu, e muito. Eu queria ser exatamente como os outros rapazes da minha idade, ter direito à diversão, bebedeiras e gurias. Tentei sempre conviver com a situação, pois logo vi que não havia como mudar aquilo. Os outros se dirigiam a mim como senhor e pronto. Nada que fiz adiantou. Mudei o penteado, a roupa passou a ser esportiva e até os óculos eu escondi bem no fundo da gaveta e pouco mudou, a não ser confundir meu velho cachorro Júpiter com um moleton preto jogado no chão do quarto. A única que se dirigia a mim como “tu” era minha vó, mas desconfiava que ela tivesse grande vontade de se dirigir mais respeitosamente a mim.

Então certo dia decidi confrontar minha sina. “O que vai levar hoje, seu Júnior?”

- Dois pães cacetinhos e uma margarina!

Foi um tanto doído. Aceitei o “seu” e não fiz nenhuma indagação. O dilema que vinha me atormentando há muito tempo, desceu que nem uma bola de meia, cheia de pregos goela abaixo.