domingo, 3 de abril de 2011

A encruzilhada!



E quando o vigor deu lugar ao torpor,
surgiu-lhe um encapuzado:
-Peregrino, diz-me já:
onde é que
ficará esta terra chamada El Dorado?

Poema declamado em um antigo filme de Howard Hanks



O limbo era ali.

Uma zona espessa, onde os movimentos tinham algo de slow-motion. O azedume ácido da língua descia até o âmago fazia crer que vida era algo como o equilibrista na corda bamba, entre duas montanhas em dia de ventania.

As coisas já não eram tão importantes, ou talvez fosse apenas uma sensação ilusória devido ao gim (não lembrava de ter bebido). Conseguia avançar sem medo e isso se fazia estranho, pois o sentimento era recorrente há muito tempo.

Os becos e vielas se sucediam, estranhas, embora um senso de direção o guiasse rumo a um destino já estabelecido.

Havia uma movimentação grande atrás de si e rostos diversos pareciam conhecidos, e conversavam sem parar. Não entendia o que diziam, mas seus gestos largos induziam a uma luta, de imposição.

Ao contrário do seu passo decidido, embora trôpego, eles pareciam perdidos. Um velho de olhos muito grandes e sérios (não seria seu avô?) tentou colocar em suas mãos um par de sapatos, muito brilhosos. Retrocedeu, mas o ancião insistia, grunhindo algo, os lábios trêmulos cobertos pela barba branca. Conseguiu tapeá-lo com uma quebrada de corpo e dobrou em uma esquina muito mal-iluminada.

O som das vozes foi ficando cada vez mais longínquo. Fazia força para os olhos se acostumarem com aquela penumbra. As pernas estavam cada vez mais pesadas e procurou auxílio na grade da lixeira para subir o meio-fio. O cheiro agora era de naftalina. Olhou para as roupas e notou que não eram as costumeiras e ficavam grandes demais. Onde diabos arrumara aquele traje com chapéu? Não era a vestimenta ideal para aquela situação, sabia ele.

Olhou para trás. O caminho havia se modificado, não era mais o que o trouxera até ali. Pensou em voltar, mas não havia como. O momento havia chegado. O que carregava de valor estava dentro de si. Seria suficiente para o ajuste?

Lembrou rostos, situações, passagens que outrora não pareceram tão importantes, mas que agora faziam sentido como uma peça- chave do tabuleiro. Foi um mau jogador, percebeu. Perdeu muito mais que ganhou.

A encruzilhada agora era eminente. Embora não visse, sentia que estava a poucos metros. Dali tudo que viesse depois era mistério.

Talvez o jogo recomeçasse.

8 comentários:

Kely Magalhães disse...

Gostei de sua postagem, muito agradável de se ler. Seguindo desde já ^^

http://anjosceticos.blogspot.com/

Equipe Mikael Moraes disse...

Dizem q nela se encontrava o diabo
mas é lorota
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Muito legal o blog
interessante o post
vc está de parabéns
vlw
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visite-nos e comente tmbm
gostando siga e avise que retribuiremos
se seguir deixe o aviso no comentário
deixando o seu link para retribuirmos
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grato
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http://mikaelmoraes.blogspot.com

Andre Mansim disse...

Rapaz, parabens pelo blog, pela postagem, pela música de fundo,
ficou tudo muito bom, adorei velho, vou até te seguir!

Antonoly Maia disse...

Apreciei o ar de mistério em seu texto!

Versos Controversos - Alan Salgueiro disse...

É bem versado e bem descritivo, mas não sei se consegui me conectar a fundo com a história. Não sei se a música era uma espécie de trilha para a história, de alguma forma ela ilustrava bem o que se narrava.

Macaco Pipi disse...

só um red bull pra sair dessa

Anônimo disse...

Fábio! Gostei bastante desse texto, mais que dos outros. Não estou me referindo ao conteúdo dos mesmos, que são todos bons, muito bem pensados. Mas me refiro à escrita. Achei que houve uma evolução muito boa aqui. Talvez tenha levado mais a finco o trabalho de revisão (escrever é 30%, revisar são os outros 70%... hehehe!) ou tenha saído assim mesmo. mas gostei pra caramba!

Gabriel Pozzi disse...

pô cara, obrigado pela indicação do marvin gaye, acredita que nunca tinha ouvido antes???
muito bom!!!

abs