quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Encontro Marcado!
Tudo aconteceu de forma surpreendente e bizarra, digamos assim.
Eu estava sentado no banco da praça Rio Branco ,lendo o jornal e curtindo o sol de setembro. Dez e meia da manhã. De repente, aquele baixote gordinho e careca sentou-se do meu lado. Sabia quem eu era, o que pensava e de onde conseguia dinheiro, o que era uma tremenda desvantagem para mim, visto que meu negócio era comprar produtos roubados, desde rádios para carro, dvd´s players, consoles de games e qualquer coisa que acendesse uma luzinha. Ficavam pouco tempo comigo, logo despachava para a vizinha cidade de Ijuí, onde o proprietário de uma eletrônica, pagava um preço razoável.
Minha rotina era sempre a mesma. Levantava nove horas, saía do hotelzinho infecto que morava há um ano, tomava um cafezinho com pastel no bar Chaplin, que ficava em frente ao moquifo. Depois, passava na banca de revistas e comprava o Correio do Povo. Procurava um banco na praça que me permitisse aproveitar o sol e ali ficava até às onze e meia,olhando a movimentação de pessoas e carros e fazendo um ou outro contato com meus fornecedores. A escória que circulava na praça era a de praxe. Prostitutas em fim de carreira, dispostas a engambelar algum aposentado que saísse do banco do Estado, gigolôs e vigaristas que sobreviviam com um golpezinho aqui, outro ali.
- Desembucha, o que tu queres? Indaguei ao baixote.
-Nada que não possas me dar. Quero tua vida, do início ao fim.
Não entendi porra nenhuma.
-Olha só, meu negócio é mulher. Vaza.
-Não é tão simples assim. Não entendeste. Tua hora chegou. Eu sou a morte e tenho te acompanhado todos os dias da tua existência. Deixei que vivesse e fizesse tuas escolhas, que, aliás, não foram muito felizes. Azar. Não costumo fazer concessões.
-Rá rá rá! Se realmente fosses a morte não te apresentarias em embalagem tão vulgar e patética.
-A morte, e também a vida são patéticas. O que esperava? Um encapuzado com a foice?
Comecei a me sentir desconfortável com aquele diálogo. O pastel frito em gordura saturada do Tonhão e a visão daquele nariz avermelhado e todo furado pela varicela começaram a embrulhar em meu estômago.
Resolvi entrar no jogo para ver até onde ele iria e o que realmente desejava.
-Tudo bem. Suponhamos que realmente você seja a morte. Sou católico, apostólico- romano, apesar dos meus pecados, que não são poucos, quero garantias de que posso me redimir.
-Garantias? – Foi a vez de ele rir alto. – Olha, tens que cobrar isso da tua crença. Nem eu sei o que te espera depois do momento derradeiro. Eu sou apenas o elemento que executa, nem mais nem menos.
Não tinha como negar que aquela figura repugnante falava com certa propriedade.
-Vou te falar uma coisa, amigo. Se for policial, vais te dar mal. Estou limpo.
-Não vim aqui para te prender e sim para te libertar. Vem comigo.
Levantou-se e saiu mancando...
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25 comentários:
Me lembrou o maravilhoso livro de Fernando saino, encontro marcado!
Nossa que belo texto. Precisei ler duas vezes, da um desconto pq estou loira heheh, mas muito bom mesmo.
Por favor visita o meu preciso de uma ajudinha simples la. Obrigada
http://lagrimas-doem.blogspot.com/
O título lembra-me o filme sobre a morte anunciada...
Muito bacana mesmo dah medo desse encontro , já que todos vamos a ele algum dia ...sinisstro neh uahauha
abrç
www.celebritypoke.blogspot.com
Muito bem explicativo,adimiro quem tem o dom de expressar seus pensamentos com encaixe perfeito de palavras.
http://superblogueiros.blogspot.com
(divulgação de blog grátis)
Sinistra a história!
Mas achei que o fim no ficou bom.
Deveria ter aprofundado mais no fim, para sabermos o que realmente acontece.
Mas eu gostei.
Abraço.
Beleza de texto!
Já te disse que adooro seus textos né?? Ahh.. adoorei a cara nova do blog.. ficou melhor.. e mais fácil de ler.. Parabéns pelo trabalho!
estou aki para agradecer sua visita ao meu site, e dar os parabens pelo blog :)
Abraço.
Administrador Fernando (Legal LPP)
www.blogsemnome.com/
com essa musica ficou bom demais ler o texto cara
curti MESMO, parabéns !
as vezes as coisas acontecem de foram inesperada, totalemente inesperada.
http://somosteupovo.blogspot.com/
Otimo texto parabens como vcs. conseguem ser tão direto..
visite quando puder
http://www.fiqueplugado.com/
legal a storia...afinal nunca sabemos quem e..como sera a morte....
maravilha de texto devia escrever um livro rsrsrs
"O que esperava? Um encapuzado com a foice?" Adorei essa 'crítica' ao rótulo. Tudo hoje é rotulado pelas pessoas; e até você, se não se cuida, passa a ser também.
E quem sabe, se no final de tudo, não é mesmo uma libertação. (?)
Ótimo texto.
belo texto, meio assustador, mais normal.
Muito bom o texto, me lembrou outro conto que já li!
Parabéns, tu escreve muito bem!
Hahaha, daltou um pouco mais de piadinha com a morte. bem que deveria ser assim ne???? vou morrer mesmo, então q se ...... rsrsrs
http://blog.winmoon.com.br/
Hahaha "Se for policial... estou limpo", rs
Ficou lehal mesmo, amigo.
abç
Pobre Esponja
"Nem eu sei o que te espera depois do momento derradeiro. Eu sou apenas o elemento que executa, nem mais nem menos."
Não poderia ser mais genial....tem continuação ?
Ah, Fábio, adorei. mas seus textos, como não poderiam deixar de ser, sempre me deixam na dúvida. No seu texto, esse velho manco era ou não a morte?
"quero me redimir"
"cobre isso da tua crença"
I M P A G Á V E L
Quem se perdoa e se culpa somos nós mesmos.
Excelente texto
a morte como libertação manca ? por essa eu jamais poderia esperar.
A morte sempre nos dá pequenos avisos e não nos damos conta. Belo texto!!!
Parabéns cara...tive nojo do pastel e do nariz furado pela varicela..vai ver que o cara morre com o pastel que deve estar estragado!
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