segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Candango!




A tênue linha que separava o que sentia do que eu realmente era rompeu-se no momento de maior rejeição de tudo que me era valioso. Honra? Não. Medo da solidão, de estar sozinho enxergando as coisas como elas são, ou no mínimo subjetivando isso.
O passo miúdo nas pôças lamacentas, os sapatos rachados embaixo serviam de exaustor para a sangria de pensamentos que vinham indesejados. A visão do oásis realístico (ou seria miragem?). Candango, apelido miserável, sem imaginação nem sentido, ao menos que eu saiba, soa engraçado e combina com a figura desengonçada que apresento a caminhar nas ruas enfeitadas para o Natal, motivo de olhares piedosos por onde passo e para quem se dispor.
Surto e ocupo uma mesa de madeira com bonita toalha logotipada em um bar da moda, o preço de duas cervejas pagaria a semana inteira de marmitex. Sorvo avidamente como se estivesse bebendo as últimas gotas da vida vibrante que ali me cerca. O garçom me olha desconfiado. Não fugirei sem pagar, tenho fugas mais importantes antes daqui.
Ao lado o engomado de plantão beberica uma xícara de café e parece estar cozinhando os miolos dentro do fumegante recipiente. As contrações faciais o idiotizam mais ainda. Ninguém me nota.
Inúteis! Vida de ostentação miserável e ignorante. Não batem olho de frente comigo por nada. Sabem que lhes furaria a alma. Não se apresentam a mim com enigmas fáceis, pois sabem que desvendarei.
Então o que lhes resta?

33 comentários:

Paula disse...

Olá!
Gostei do blog e da trilha sonora. O post é profundo.
A relação dos preços e seus valores agregados (cerveja = prazer ; marmitex = necessidade) é algo que eu venho pensando a muito tempo.
Fora o nome Candango, que eu saiba é assim que chamavam os operários que construiram Brasilia não? Mas no fundo, eu também não sei o que significa.

Pobre esponja disse...

Candango aqui em SP é brega, gente que não sabe se vestir tals...

abç
Pobre Esponja

Wagner Lopes disse...

Acho que no fundo todos tem medo da solidão

WebAr disse...

Algumas analogias são fantasticas!

Antônio Marlos disse...

Mesmo eu esando arrodeado de pessoas eu me sinto só. É incrível como isso acontece. Isso tudo depende da pessoa/ das pessoas que você está. Existem pessoas ou apenas uma que, quando você está com, tudo fica bem, o mundo melhora...

Teu blog é muito bom! :D

roberyk disse...

Cara, este texto me sugere várias interpretações sobre a identidade da personagem. Lembrou-me, por momentos, um cara (eu mesmo), na noite em que me separei e saí, vagando sem rumo certo.
Também me faz menção daquele sujeito de vida difícil que está atolado em problemas, cheio de raiva, de dúvidas e que decide tomar um porre.
Por fim, o último parágrafo tem algo bíblico.
Muito intrigante. Sou fã dessa narrativa rodeada de mistério, onde se diz tudo e exatamente nada.

Luis Sapir disse...

Seu texto tem textura, você colore ele increvelmente. Eu sinto a lama, a poça. Saboreio o sentar no banco de madeira.

Extremamente sensorial!


Parabens!

Unknown disse...

ser rejeitado viver so...e muito ruim...e smepore perguntamos...o que a vida pode nos oferecer,,,

thiago toscani disse...

Meu camarada,
que grata surpresa ler um texto tão bem escrito. Mais ainda por eu ter nascido na região das Missões (em Santo Angelo!). Enfim, que bom que a blogosfera ainda surpreende a gente!
Sobre o texto, imaginei um personagem interessantíssimo...tuas palavras, aliás, me sugeriram diversas interpretações. Gosto muito disso!
Sigo teu blog a partir de hoje, ok?
Grande abraço
Thiago
www.ttoscani.blogspot.com

Joanne Cardoso disse...

Adorei o blog. Seus texto estão muito bem escritos e dá um prazer enorme de ler.
Adorei a foto da indiazinha, perfeita.
Parabéns.


http://descobridoresdossetemares.blogspot.com/

Joanne Cardoso disse...

Adorei o blog. Você escreve muito bem, dá um prazer enorme ler teu texto.
Adorei a primeira foto da india.
Parabéns amigo blogueiro, sempre te farei um visita pq gostei de tua casa.




http://descobridoresdossetemares.blogspot.com/

Unknown disse...

As descriçoes dos personagens e seus respectivos traços e sentimentos foram muito bem feitas. Achei que inclusive o texto pode ser alongado ou ter uma continuação. Parece-me que o personagem principal estava em um dilema, o receio da solidão ou de ter que enfrentar a realidade? Enfim, bom texto, muitas interpretações a serem sugeridas, parabéns.

Unknown disse...

aI QUE LINDO !
Adoro textos de homens, engracado, porque acho menos meloso do que das meninas e continua interessante !
Muito legal seu Blog!

SinaldoLuna" disse...

Como sempre, adoro da uma passada por aqui... Ótimo blog, ótimos textos.
Descrição minuciosa, bastante rica, mais uma vez, parabéns!

www.sinaldoluna.blogspot.com

Rafa Amaral disse...

Muito bom o texto. Narratica que flui, ácido e direto. É bom saber que as idéias ainda fluem na net. Abraçoss e passe no meu blog: http://cinemasemtempo.blogspot.com

Anônimo disse...

Beleza de texto! Na verdade somos todos "calangos". =)

Anônimo disse...

Ops! "Candangos" hehehe
abraço!

Anônimo disse...

Taí gostei do seu blog com este texto maravlhoso combinado com esta trilha sonora , dificil lermos textos assim tão bem fundamentados, mas a pergunta que você deixa ao final do texto me leva a uma reflexão grande dos nossos tempos atuais.

BLOGdoRUBINHO
www.blogdorubinho.com.br
www.twitter.com/rubenscorreia

Anônimo disse...

Que bela construção.. simplesmente adorei o post como também o blog.
Vc se expressa de uma forma mto bacana de se ler e permite uma compreensao clara da msg que pretende passar!

Parabens,..

Sucesso

Unknown disse...

amei o post... e adiciono q tb tenho medo de solidão!

Anônimo disse...

Fabio Zen tai o nome que estou recomendando aos meus amigos.Onde tu te escondeu até agora,meu?Ia sair mais cedo da facul hoje para jogar um tenis,mas depois de ler essa tua construção magnífica ainda mais com Velvet ao fundo mudei os planos,preciso de uma cerveja urgente...

Thunderbirdsampa

-o blog ficara pronto acho que essa semana.Te aviso.

Leina disse...

Sentir medo da solidão é natural. Ruim, mas natural!
Gostei do blog, com tantos blogs por aí, poucos são realmente interessantes, muito bom...

Abs

Unknown disse...

Uma linha tênue entre o surreal e a realidade propriamente dita. Mais a verdade é q no fundo tds nós temos algum tipo de medo da solidão e o desejo de ser amado nessas horas supera qualquer coisa

Nina disse...

como sempre, um ótimo texto, fábio! sempre gosto muito de ler suas postagens. acho que grande parte dos seres humanos estão assim hoje, clamando por misericordia e atenção. se veem em um patamar inacessivel e esquecem que para interagir, basta descer. e essas datas comemorativas? só ajudam as pessoas a se sentirem pior ainda.

Anônimo disse...

"Sangria de pensamentos" me lembra aqueles ditos hébrios mexicanos. A bebida de frutas e espumante de quinta afaga os candangos de plantão. A solidão é genuína e inerente (ou aderente) a cada um. Somos seres contraditórios - e Jung muito falou nisso - ao manifestar os desejos: ao mesmo tempo em que sonhamos em ser livres, morremos de medo de sermos sós.

Voilà!

JASMINE TIGER disse...

sempre passo aqui ..mas nunca tinha deixado um comentário ,gosto muito do seu texto qndo eu leio eu viajo neles
parabéns

Unknown disse...

O que lhes resta? Continuar fugindo do "olho no olho"...

Michael disse...

Engrançado que essa expressão "candango" não é usada aqui no Rio não...

PCN disse...

Velho, muito bom seu texto!
Vou dar uma conferida nos outros... hehe

Lalli Carvalho disse...

caracaaa, amei essa frase " ão se apresentam a mim com enigmas fáceis, pois sabem que desvendarei." *---* minha cara!

Anônimo disse...

Texto muito bom, lembrei de mim em várias partes, e isso foi incrivelmente bom.

Parabéns pelo blog.

Depois da uma passada no meu.

http://enigmasdocotidiano.blogspot.com/

beatriz franco disse...

Acho que o que lhes resta, e a todo mundo, é fugir.

Não entendi o porque do candango. haha

Anônimo disse...

Perfume. Essa gente sempre tem perfume debaixo do sovaco.