sexta-feira, 3 de julho de 2009

Coisas para fazer nas Missões quando se está morto!




Bem, sempre tive dois básicos e indispensáveis pecados. O primeiro o da luxúria e o segundo menos de uma cabeça atrás, o da gula. O primeiro até saudável, afinal o apetite sexual irrefreável me ajudou a queimar meu dinheiro e também algumas calorias. Já o outro foi acabou sendo o inimigo intimo e mortal do primeiro.
O que vou contar a vocês começou em uma sexta-feira.
Sai antes do trabalho e fui para meu apartamento, o qual vivo (ou vivia) sozinho. Pedi para compensar horas no escritório e o verme do meu supervisor fez um charme enorme para me liberar. Demorou remexendo em uma pilha de documentos, tipo-"como tu queres sair mais cedo se tem uma montanha de serviço para atualizar?". Antes do cu de ferro me dar uma resposta negativa, disse que havia comentado com nosso chefão que estava me sentindo exausto pois tinha ficado na noite anterior até às duas da matina e fora ele que havia sugerido pedir para ir para casa. O sacana levantou a cabeça daquela maçaroca de papéis e me deu uma olhada por sobre aqueles óculos de aro bem fino e mais para fazer charme que para corrigir alguma coisa naqueles olhos de raposa. Suspirou e a contragosto disse como que fazendo um favor- "Ok,vai lá,vou separar algumas coisas que ficaram pendentes e amanhã cedo tu revisa tudo."
Quanta generosidade daquele filho da mãe. Eu havia passado meu horário de almoço cobrindo meu colega que faltou e na minha mesa um mísero pacotinho daquelas rapaduras cortadas em cubinhos que eu havia comprado ali no real da Avenida Brasil para um caso de emergência. Meu Deus como eu ainda estava vivo? Cinco horas da tarde e eu com meu corpanzil de metro e setenta e cento e vinte quilos com apenas aquelas rapadurinhas.
Não me despedi de ninguém peguei meu casaco e me mandei dali com a cabeça dividida. Imagiva o que comer para saciar aquela fome animalesca e também projetava o encontro que havia marcado com a secretária do escritório vizinho, famosa por ter saído com toda a ala masculina do prédio. Embora eu não fosse exatamente o que se pode chamar de “Deus Grego” em uma situação normal diria que não tinha chances com ela, mas levei em conta a seqüência e notei que eu era o último com gametas masculinos naquele logradouro. Investi e em dois dias estava com o encontro marcado.
Cheguei na portaria e o porteiro me passou as correspondências,uma rápida passada de olhos e nada de anormal-cobranças, contas de luz, propagandas de lojas. Olhei para a escadaria e desisti da empreitada. O médico havia me aconselhado a subir e descer fazendo de conta que o elevador fosse um ornamento do prédio. Não. A fome era muita.
Eu chegava estar trêmulo de fome. Uma coisa assustadora realmente. Provavelmente se a encarquilhada senhora do setenta e um entrasse no elevador com a tradicional torta de nozes que seguidamente comprava na padaria ao lado do cartório correria sério risco de ser atacada ali mesmo.Quando as portas se abrissem,lá estaria a megera com o pescoço quebrado e eu afocinhado no glacê.Que horror! Corri com minhas limitações de um homem avolumado até o fim do corredor, abri rapidamente a porta e num rompante desesperado e o cérebro já não lembrando a ordem alfabética folhei a lista telefônica. Mais no instinto que na coordenação achei o telefone de uma famosa pizzaria e calzoneria santoangelense. Falei diretamente com o dono, conhecido de muito tempo e um incentivador dos meus hábitos quase ritualísticos antes de fazer desaparecer um calzone gigante de strogonoff, preferencialmente de frango,especiaria especialmente desenvolvida por ele para saciar meu apetite incontrolável em certas noites. Naquele momento a gula havia superado a luxúria. Em meia-hora já completamente esquecido do encontro romântico que aconteceria em pouco tempo. Comi aquele calzone que devia pesar algo em torno de dois quilos e meio e que havia custado a vida de umas duas bravas e penosas galinhas. Saboreei com luxúria (aquela que eu deveria empreender em breve) e metodicamente e acompanhado de um balde de suco de beterraba de minha própria autoria. Ao final, já vencido o desafio e com uma espécie de rigidez cadavérica na minha cintura de lutador de sumô, ouvi a campainha.
Cacete,como havia esquecido a secretária? Meus instintos mais básicos ali.Latentes e pujantes.Ela estava sensualíssima em um vestido curto e com um decote em V que ia até o umbigo. Entrou sem pedir licença e foi me empurrando aos cutucões em direção ao sofá. Tinha ouvido no escritório comentários sussurrantes pelos cantos acerca da fúria uterina da moça. Mas daí a ela me assaltar daquele jeito havia uma certa distância.
Fui recuando e caí de costas sobre o estofado.Acho que o vizinho de baixo deve ter sentido alguns pontos na escala Richter. Ela em um movimento rápido se despiu. Não havia roupa íntima. Nua em pêlo. Não tive muito tempo para apreciar a visão pois em um salto digno de ginasta olímpica, ela montou sobre meu vistoso e protuberante ventre acavalando-se e prendendo-me em uma chave de pernas. O súbito choque provocou uma sonora e violenta reação flatulenta em cadeia. Minhas entranhas se contorceram de tal maneira que pareciam estar em um liquidificador. Eu comecei a tontear e apaguei.
Só abri os olhos dali a um mês. Acidente vascular cerebral!
Estava em uma cadeira de rodas, meus movimentos se resumiam a piscar os olhos e me encontrava em frente a tevê, o Coyote ainda perseguia o Papa-Léguas.Minha rotina dali em diante foi brutalmente modificada. Em vez dos faraônicos banquetes, papinha ingerida de canudinho. O banho era aplicado em mim uma vez por semana, onde o mecânico da oficina em frente e também Rei Momo do carnaval de rua suava às bicas juntamente com a linda enfermeira para lavar meu suntuoso corpo. Sem falar em fraldas enormes e talquinho polvilhado nas minhas virilhas para não assar.
Bem, como vocês perceberam enfrento uma morte em vida. Não tenho nada para fazer, até por que isso é impossível para mim. A vida se passa somente através de meus olhos, de minha boca semi-aberta escorre uma insistente saliva. Meu único deleite é ironizar mentalmente minha situação. A linda e sensual enfermeira almoça ao meu lado, geralmente um hambúrguer, mas nos dias do pagamento se dá ao luxo de mandar vir o calzone de frango e come sem remorsos na minha frente.
Meus dois pecados preferidos ali diante de meus olhos,a luxúria e a gula...

4 comentários:

Adriano disse...

bom texto.. trágico, mas dá pra refletir um pouco..

voce descreve muito bem cada situaçao,parabens.


www.colunasdehercules.blogspot.com

Kaza Chique disse...

Eu estava gostando muito da história até a hora que você apagou, depois não entendi mais nada. O vídeo era importante pra entender? shusasuhuusa
Sabe como é né, to no trabalho, não dá pra ver o vídeo!
Abraços

Anônimo disse...

Olá Fábio, é um prazer poder ler um texto bem escrito na blogosfera, bem envolvente e simples, gostosod e ser lido. Prazer em tê-lo como leitor e esse comentário é também uma retribuição à sua visita em meu blog. Sou seu seguiddor, em breve, espero que retribua...

Abraço!

Rafael Andrade disse...

Muito boa a crônica!!! Essa mulher hein, uma ninfomaníaca nata eheheheh