domingo, 3 de janeiro de 2010

A lenda do Santo Flautista!




Estava ali, simplesmente.Como se a própria alvorada o tivesse trazido e fosse a única testemunha.
As primeiras pessoas que passaram no entorno da Catedral, olhavam curiosas. O tapete estendido no chão, com pequenas peças de madeira reproduzindo bichos silvestres, como araras e onças. Sua presença, indiferente e tímida, parecia atrair ainda mais atenção sobre si. Os longos cabelos, o rosto ovalado e os olhos puxados não deixavam dúvidas a respeito de sua origem indígena. Vestia uma camisa branca e uma folgada calça, com tons entre o cinza e o marrom. Nos pés, alpargatas de tecido, já muito gastas.
E uma flauta.
Os primeiros dias causaram estupefato geral aos incrédulos transeuntes. Intercalava a produção das pequenas peças, talhadas a canivete, com a execução de melódicas e hipnotizantes canções, que traziam aos ouvintes uma sensação de familiaridade com um tempo que não lembravam.
O passar dos dias trouxe a desconfiança das autoridades. Quem era ele? De onde vinha?
Representava perigo para a população? Resolveram abordá-lo e o conduziram para a delegacia, onde para a surpresa geral, constatou-se que além de não trazer consigo nenhuma espécie de identificação, era totalmente mudo. Ou não queria falar.
Após alguns dias, preso e sem nenhuma acusação formal, algumas pessoas influentes da sociedade, que haviam passado e presenciado com deslumbramento sua música, avalizaram sua soltura.
No dia seguinte, bem cedo, já estava novamente instalado em frente a Catedral, onde por vezes, parava de tocar ou entalhar, e ficava absorto, olhando o frontispício da Igreja.
Quando um certo Antônio da Silva, do meio da plateia anunciou que estava escutando com o ouvido esquerdo, o qual havia estourado o tímpano, a coisa começou a tomar um rumo extraordinário. A notícia correu, e várias pessoas com graus variados de enfermidades, começaram a procurar o índio e buscar sua música. Ele não decepcionava ninguém. Seu mutismo era compensado com a incrível melodicidade que parecia querer transpor as notas musicais.
Logo, o suposto sumiço de um tumor de pulmão, impulsionou a situação para a histeria coletiva. Um santo encontrava-se na praça de Santo Ângelo. Caravanas de outras cidades começaram a chegar constantemente, de vários municípios,alguns longinquos. Foi matéria de jornais locais. O índio da flauta mágica.
Certa manhã, os primeiros esperançosos que chegaram,para mais uma sessão de música milagrosa, não encontraram nem sinal do flautista. Foi montada uma mílicia para achar o santo, pois o povo não podia mais viver sem sua melodia.
Tudo em vão.
Nunca mais foi avistado. As vezes, comentários davam conta de que ele apareceu rapidamente, em alguma outra cidade das Missões.

14 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da história,pelo jeito ele passou a ser bem querido, contagiou a todos com sua bela melodia, seria bom se tivessemos pessoas para alegrar o povo assim

bela história

BLOGdoRUBINHO
www.blogdorubinho.com.br
www.twitter.com/blogdorubinho

Alan Borges disse...

dae amigo

muito bom, gostei muito do seu estilo de escrita, com um certo mistério e muita sensibilidade. A introdução de Tocaia Grande combinou muito bem com o desenrolar do texto.

te recomendo um blog muito bom de uma amiga minha, ela ecreve crônicas com influência gótica:

Prancheta Virtual

Enfim, bom trabalho e boa sorte com o blog!

sucesso!

N64 Brasil

parabéns

Macaco Pipi disse...

VIXE
ATÉ ISSO EXISTE!

Eunisia disse...

Muito boa a história. Espie o meu blog:http://meuseuseseus.blogspot.com/

Viviane Righi disse...

Acredito que a história que você contou acontece muito pelos cantos do mundo, no anonimato, onde fatos espetaculares acontecem e nem ficamos sabendo. É bom conhecer um pouco dessas histórias...

Seu blog tem muita qualidade. Gostei demais de passar por aqui e quero voltar mais vezes.

Um grande abraço e um ótimo 2010 pra vc!

Vivi Righi
http://fluindolhar.blogspot.com/

Anônimo disse...

A hipnose...um jeito de levar a vida sem vivê-la. Não gosto desses índios (que são incríveis) na frente da catedral ou vendendo seus artesanatos pela rua. As pessoas se compadecem no verbo, mas os deixam à margem quando o assunto é respeito e cidadania. Também não acho que seja um símbolo. Se fosse, essas mesmas autoridades que educadamente mencionaste apoiariam os projetos que visam a inclusão e o respeito às origens. Não me agrada essa impressão onírica. Camufla a identidade real e continua tapando o sol com a peneira. De palha.

Vestibulando disse...

Parabéns pelo texto, você demonstra com simplicidade e sensibilidade o encanto do índio flautisma. Deu até vontade de ouvir esta melodia, seria bom se ela pudesse curar os males vividos no mundo.


Visite nosso blog.

www.blog.maisestudo.com.br

Abs
Mais Estudo

Yaser Yusuf disse...

Belo conto, proseado e envolvente.
Difundiu bem a historia com uma bela narrativa!
Grnade abraço e Feliz ano novo!

Thaissa disse...

Adorei a história e o jeito que você escreve!
ele contagiou a todos! isso deve acontecer muito por aí...
você escreve muito bem, ein!!!
abraços e boa semana

Daniel Silva disse...

e aí, Fábio. bela história. adoro contos.

abraço

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Os únicos santos que existem são aqueles que erguemos nas fendas das nossas angústias. A música é universal mas a língua não é. Não são necessárias palavras para que milagres se dêem. Talvez a música seja a resposta. Porém, é possível que a cura seja a resignação pelo fato de que o índio, europeizado pela falácia dos Jesuítas, trouxesse consigo a mágica de ser autêntico dentre tantas faces feitas de cera, de mero cheiro podre de uma cidade que se quer rica culturamente e na realidade apenas venera um passado insciente, instigando uma realidade que lhe compraz tão-somente por conta do lucro. Se o flautista desapareceu, deve ter sido por conta do fato de que nunca existiu e de que a música, universal ao revés da língua, seja o lamento distante de todos nós, invasores de uma terra que jamais nos pertenceu e ainda assim chamamos de lar. Por isso a Catedral é feita de sangue. É feita de escombros e desrespeito. Mas como uma tragédia atrai muito mais atenção que uma boa ação, o deslumbramento se dá. E só quando formos além desse deslumbramento, saberemos da matança que a história arquiva no DNA de cada morador de Santo Ângelo: a cidade das aparências, das máscaras, dos vidros fumê e de todo tipo de entorpecente que por aqui se usa para desculpar a culpa essencial de ter construído um umbral de divindades por sobre um genocídio de culturas. Somente seremos éticos quando reconhecermos a igualdade na diferença. Antes disso, estética. E estética midiática. Mas o pior é que sim, a Catedral é bela, a música é bela e eu faço parte de tudo isso, traçando minhas linhas por sobre o sangue daqueles que um dia aqui morreram e foram enganados por um crucifixo inventado no talhe das canalhices. Gostei do texto. E sim, voltei com o blog. Um abraço. P.S.: dê uma olhada no último texto do INSUFILME.

Unknown disse...

fabio fabio a pessoa q deixa criticas maldocas no meu blog rrssrrs gostei da doseu desta esta gostoço de ler parabens muito bom ate mais!!!!


uma musica:
Glory Box
um blog:
http://statusfrancys.blogspot.com/
uma boa leitura:
http://oficinamissoes.blogspot.com/


ate mais!!!!

Anônimo disse...

Fábio bela matéria que destaca a cultura folclórica de sua cidade, além de demonstrar claramente todos os traços deste personagem cultural, ótimo texto! Parabéns!

Anônimo disse...

Ótimo texto! Não conhecia essa crença popular!! O interessante foi a identificação com ele!


abs!