sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Perto do fogo!



Conheci o Robertinho na época em que comecei meu primeiro emprego em 1988,em um escritório.Ele trabalhava em uma renomada seguradora como office-boy e utilizava nossos serviços.De compleição magra,cabelos cacheados e ruivos,era um clone do Mick Hucknall da banda Simply Red.A fala macia a voz rouca e arrastada aliada ao bom papo o alçaram a condição e Don Juan do pedaço.Motoqueiro apaixonado e habilidoso,gostava de se exibir em duas rodas.Foi pai aos catorze anos(!!!)
Era fruto de uma relação entre um homem casado e uma prostituta.Logo após seu nascimento o pai o levou para ser criado pela esposa que o recebeu e acolheu como se tivesse sido gerado no próprio útero.Mesmo assim carregou sempre consigo,mais por ele mesmo que sempre tocava nesse assunto que pelos amigos,uma estigma dolorida.
A família ofereceu todas as condições para ele crescer com bom colégio e suporte financeiro.Ele preferiu o caminho do risco procurando algo que não sabia o que era exatamente.Conheceu o mundo das drogas aos doze anos.
Me aproximei dele pelo coração gigantesco,capaz de privar-se de algo em prol de ajudar alguém,mesmo que desconhecido.A ânsia de viver e preencher o enorme vazio que lhe corroía era proporcional ao consumo de drogas,álcool e cigarro.
Acabou sendo demitido pela seguradora por não conseguir cumprir horários e foi contratado pelo nosso escritório.Foi aí que conheci essa grande alma.Foram vários anos de convivência e a certeza minha e de todos que conviveram com ele que se tratava de um menino doce perdido na sua angústia.
Aos poucos as drogas leves foram sendo substituídas pelo uso de cocaína,primeiro via nasal e depois intra-venosa.Noitadas intermináveis de porres homéricos,bebedeira e orgias acabaram com dois casamentos, sua empresa(que havia sido bancada pela família)e quase o conduziram à morte em um acidente terrível de moto em que escapou da morte por detalhes.
Na época em que eu estava fora e vinha à Santo Ângelo,buscava informações sobre ele com conhecidos,mas recebia as mais desencontradas-havia morrido,tinha se recuperado e ido embora,ou estava morando com o pai em um bairro longinquo da cidade para fugir dos credores do tráfico.Eu não sabia em que acreditar, mas com um misto de vontade de abraçar aquele querido amigo e o medo de sabê-lo morto.
Em 2007, ao sair de um edifício no lado oeste da cidade, enxerguei aquela chamativa cabeleira ruiva e associei que sua mãe morava à cerca de uma quadra dali.Era ele, em uma velha bicicleta Monark,uma barba rala,a aparência muito envelhecida, para os apenas quarenta anos,vestia camiseta e jeans imundos e ...me reconheu.
O que se sucedeu exatamente não saberia descrever. Eu tive medo de me aproximar e trocar uma palavra.Medo de deixar transparecer meu profundo pesar por vê-lo naquelas condições.Ele provavelmente teve vergonha de se expor naquela estado de quase mendicância. Um breve aceno com a mão,sem um sorriso foi o que restou de um encontro de dois velhos amigos. Ele se foi e eu fiquei ali parado sem ação e com o peito apertado engolindo em seco e procurando razões...

18 comentários:

Unknown disse...

Legal o reencontro entre vocÊs.

agora ri muito com isso aquela chamativa cabeleira ruiva e associei que sua mãe morava à cerca de uma quadra dali.

Rafa disse...

Que bela histéria!

http://cemiteriodaspalavrasperdidas.blogspot.com/

Diego Eduardo Bachiéga disse...

Uma bela liçao p qm lê.
Sou imã p pessoas assim, e procuro somar nessas vidas de alguma maneira.
Parabéns pelo texto!!!

Abraços!!

Anônimo disse...

Eu já tinha lido esse texto... mas onde tu publicou?

Vini e Carol disse...

è bom encontrarmos amigos que há tempos não vemos ou conversamos, sempre bate aquela vergonha ou medo de ele não reconhecê-lo. Mas o ruim é quando este reencontro não surte as espectativas esperadas, às vezes ele não é mais o mesmo e isso nos decpciona.

Beijos, Carol

Isabela Fausto disse...

"com o peito apertado e engolindo em seco"
senti em mim! hahah

ederDBZ disse...

uma narrativa sensacional, me encontrei como se estivesse dentro da história..
e é sempre otimo rever amigos que nao vemos a tempos..
dá uma sensação gostosa de nostalgia, daqueles tempos ótimos que não voltam mais!!

Anônimo disse...

A amizade é um bem eterno, traduzir em textos, revela um estilo crônico-urbano de expor um simples acontecimento em historiográfico e de certo modo reencontrar um amigo é!

Letícia Nogara. disse...

me senti uma personagem da hiistória *-*'
belo post :)

Betinho Cerri disse...

NICE!
parabéns champs!
otima narrativa!

Unknown disse...

Não sei se a história é verídica, mas se for, parabéns pelo encontro.


http://maynabuco.blogspot.com

Carlos Alberto Mota Candreva disse...

A vida leva a extremos que nunca podemos imaginar. Somos apenas fantoches. E quanto nos deparamos com situação que nos deixam sem ações preferimos esconder nossos sentimentos do que mostra-los. Talvez isto acaba nos denegrindo e agredindo mais do que se tivéssemos levado uma surra, pois a consciência é bem mais severa...

http://candrevasblog.blogspot.com/

arash gitzcam disse...

O que ele usava era realmente perigoso.

Neuro-Musical disse...

Bacana o texto. Reecontrar velhos amigos sempre gera expectativas para saber da vida daquele individuo que um dia fez parte da sua.

http://cerebro-musical.blogspot.com

Monologuista Acompanhado disse...

Curti o teu jeito de escrever.

Li o post do All Star também e achei muito pira, vou voltar mais vezes por aqui.

Me visite se possível ;D

Abraço.

Kelly Christi disse...

reecontrar pessoas nao eh apenas bom, eh enriquecedor, meso que negativo, ha um questinamento proprio.
Criativo o titulo! rs sacada legal

bjs

http://www.pequenosdeleites.blogspot.com

Unknown disse...

Nossa que texto louco, cabelereira ruiva, é cada uma, histórias criativas.

G.g disse...

muito criativo